Horas antes de Portugal se estrear no Europeu 2024, com uma vitória arrancada a ferros contra a Chéquia (2-1), o jornalista Luís Osório escreveu sobre este sentimento de pertença, que move tantos portugueses em redor da seleção.
Alheio ainda ao que se passaria horas depois, no primeiro jogo da seleção portuguesa, o jornalista escreveu o seu ‘Postal do Dia’, numa mensagem sobre futebol, sobre a seleção, mas acima de tudo, sobre Portugal.
“Durante 90 minutos eu estarei hoje a fazer o mesmo que tu
1.
É hoje a estreia de Portugal no Euro 2024.
Estaremos à frente da televisão como se fossemos família.
E somos.
Falamos a mesma língua e se estiveres na casa dos 50 vimos o Dartacão, o Tom Sawyer e os Jogos sem Fronteiras, mais o Sandokan, o Dallas, o Zé Gato e as novelas brasileiras – sabes que ainda me lembro vagamente da Gabriela e do Casarão?
2.
É hoje que Portugal joga com a República Checa que agora tem outro nome.
Estarão connosco os filhos ou os netos.
Incrível como o tempo passa, já vestem a camisola de Portugal e até já discutem as opções do selecionador.
Os mais pequenos nunca ouviram falar do Chalana, do Jordão, do António Simões ou até do Eusébio. São sempre eternos os pequeninos, o tempo começou a contar quando nasceram, o futuro é totalitário e ainda bem que o é – que a morte lhes esteja arredada do pensamento por muitos e longos anos.
Estarão em campo os nossos jogadores e vai-me passar pela cabeça, talvez pela tua também, os que já não estão.
Os nossos pais, avós, tios, amigos.
3.
Portugal entrará em campo e daqui a bocadinho já haverá onzes iniciais.
É sempre sublime estarmos no mesmo barco.
Foi mesmo a única coisa menos má na pandemia, o estarmos juntos na mesma estrada, o podermos adoecer e morrer num destino comum que nos podia e devia ter aproximado mais.
Se ganharmos começaremos a sorrir.
E se tivermos a possibilidade de chegar aos jogos finais não hesitaremos em abraçar-nos, mesmo que em nós nada seja comum, mesmo que estejamos em hemisférios opostos.
4.
O golo é sempre um regresso à infância.
Um regresso aos jogos na rua quando as balizas eram portas e o futuro um lugar distante.
E mesmo para quem não gosta de futebol, os jogos de Portugal são o que na família era bom, o encontro, o gritarmos juntos, também a chegada do Verão, a ausência de preocupações durante aquele pedaço de jogo e esperança.
O golo une ricos e pobres.
Canalhas e anjos.
Progressistas e conservadores.
Velhos e novos.
Mulheres e homens.
Cultos e analfabetos.
Grande responsabilidade a dos jogadores da seleção: serem o nosso motor de esperança ou de frustração.
Dependerá deles o grau da nossa felicidade ou revolta”.
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