Diogo Costa é, por estes dias, o herói de Portugal. O guarda-redes português fez história neste Europeu, ao tornar-se no primeiro guarda-redes a defender três grandes penalidades, num desempate, na história dos campeonatos da Europa.
Com esse momento grandioso, em que não permitiu qualquer golo da Eslovénia, Diogo Costa apurou Portugal para os quartos de final do Europeu e saltou para as capas dos jornais.
Agora, Luís Osório traz-nos uma curiosa história de vida do jovem guarda-redes, e sobre como o divórcio dos pais, quando Diogo era ainda muito pequeno pode ter salvado Portugal contra a Eslovénia.
“Os pais de Diogo Costa separaram-se e Marcelo deveria condecorá-los por isso
1.
Se Armanda e Francisco não estivessem sempre a discutir, se a vida entre os dois não tivesse ruído, se naqueles anos as coisas tivessem corrido bem, se o seu pequeno filho tivesse crescido sem sobressaltos, com o colo do pai e os beijinhos da mãe, certamente que hoje não estaríamos a celebrar Diogo Costa como o novo herói deste país de tudo ou nada.
É absolutamente verdade o que te estou a dizer.
Diogo era o filho único de um casal de emigrantes num cantão da Suíça. Acabara de fazer seis anos e estava já matriculado numa escola primária de Rothrist.
O pequeno Diogo falava alemão com os amigos, ali nascera e ali iria ficar e fazer vida. Francisco e Armanda tinham-se sacrificado para ganhar o dinheiro que em Portugal lhes parecia estar vedado, o sonho dos dois era que o seu pequeno Diogo pudesse ali viver tendo acesso a todas as oportunidades.
2.
Não foi possível e Armanda pegou no menino e regressou a Santo Tirso. Prometeu-lhe que nada lhe faltaria, que os dois seriam sempre um do outro e que ele iria conseguir o que ninguém na família ousara ambicionar.
Diogo era um estranho num país que não conhecia.
Precisou de um tempo para encontrar amigos, mas acabou por ser mais simples do que mãe receava, para as crianças é sempre mais fácil.
3.
Começou a jogar futebol num clube familiar na Vila das Aves. Chorou “baba e ranho” por o treinador do Pinheirinhos o meter à baliza por ser mais alto do que os outros meninos.
Os avós maternos Ginho e Fernanda ajudaram a filha a criar o pequeno neto. Deram-lhe mimo e massa com queijo que o Diogo continua ainda hoje a preferir a todos os pratos do mundo.
Diogo continuou à baliza.
Deixou de chorar e com o tempo a ideia de ser avançado foi-se atenuando até desaparecer.
4.
É em tudo isto que Diogo pensa quando pensa na família.
Nisto e na Catarina a quem escreve cartas de amor desde o primeiro dia que se conheceram.
E há qualquer coisa em Diogo que o faz adivinhar – aconteceu-lhe quando ouviu Catarina entre dezenas de vozes que lhe chegaram aos ouvidos.
Adivinhou que seria ela a mulher da sua vida, a mãe do seu primeiro filho, o Tomás que no final do ano completará já dois anos.
Adivinhou-o com a mesma limpeza com que ontem acertou para onde os eslovenos iriam rematar a bola.
E voou como um pássaro negro a pensar em tudo o que o fez chegar ali.
Nas discussões dos pais, no amor da mãe e dos avós, nas saudades do pai Francisco que se mantém na Suíça, no orgulho da família que construiu com Catarina e no seu herdeiro Tomás que ainda não sabe bem o que é uma baliza.
Agradeço do fundo do coração à Armanda e ao Francisco. Se não se tivessem separado é provável que o vosso filho fosse hoje um herói num cantão suíço e não nesta Pátria única de loucos, idealistas e poetas. A Pátria que amamos”.
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