Pedro Chagas Freitas fez nova atualização sobre o estado de saúde do pequeno Benjamin, o menino de seis anos, que foi diagnosticado com deficiência de alfa-1 antitripsina, quando tinha apenas três meses de vida, e que tem agora todo o país a torcer por si.
Tem sido uma luta difícil para estes pais, relatada pelo escritor nas redes sociais, com esse seu dom único para a escrita. Pedro Chagas Freitas partilhou recentemente sobre a doença do menino, que precisava urgentemente de um transplante de fígado.
Após o conseguir, há duas semanas, o menino já saiu dos cuidados intensivos e continua a sua batalha. Dias piores, mais difíceis e de aflição para estes pais, mas também dias bons, que os alegram e a todos os que acompanhamos esta luta do Benjamim.
“Hoje foi um bom dia. Já sorriste, já quiseste mais (da) vida. Basta isso para sermos os três palermas mais felizes do hospital inteiro. Contigo, aprendo todos os dias a desaprender. É o mais difícil desta vida, sabes? Temos todos os nossos alicerces sobre tantas mentiras, tantas verdades que nos venderam como intocáveis, tantas premissas que pensámos sempre que teríamos de cumprir. O meu pai (amo tanto o meu pai, este 2024 é uma merda, uma merda) dizia tantas vezes que “muito se engana quem pensa”, e é mesmo assim. Enganamo-nos quando pensamos que sabemos tudo, que aquilo é o que é e nada mais, quando as coisas, o mundo, as emoções, são muito mais do que aquilo que são, as coisas, o que nos acontece, têm tantas peles, tantas formas de serem olhadas, de serem sentidas, consumidas.
Muitas vezes, é ao contrário: as coisas são tudo menos aquilo que são, são o que não são, o que não foram capazes de ser. Contigo, dizia-te, aprendo todos os dias a desaprender. Obrigaste-me a ver diferente, a ver-me diferente. Obrigaste-me a reformular tanto em mim, no que queria para mim, no que me fazia feliz, no que seria a minha vida de sonho. Andei tão enganado tanto tempo, andei a enganar os outros com o meu engano tanto tempo. Estamos muito enganados quando não sabemos o que somos, porque somos. Custa muito desaprender.
Começar de novo. Reinventar, reformular, fazer reset. É mais fácil persistir, insistir, magoar, ser magoado, ficar preso a uma pessoa que já fomos, que pensamos que temos de continuar a ser. Custa muito deixar ir o que na verdade nunca fomos. O melhor da vida são as ressurreições que ela nos dá. A mudança é sinónimo de inteligência, e de vida, no limite. Não são os burros que não mudam; são os mortos. Viver-te, em tudo o que nos trazes, é a vida em carne viva, na pele, no músculo, até ao osso. Ensinaste-me a desaprender a minha vida para poder sobreviver. Só resiste à vida quem aprende e desaprende com ela em doses iguais, na mesma medida. Contigo, aprendo todos os dias a desaprender, e tenho a certeza de que quanto mais sei, menos controlo, e mais amo”, escreveu Pedro Chagas Freitas.
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