Morreu João Paulo Guerra, jornalista de 82 anos, neste domingo, 04 de agosto. De acordo com a agência Lusa, faleceu vítima de doença, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.
Foi jornalista, desde os seus 20 anos, e trabalhou na rádio, imprensa e televisão. Também escreveu dezenas de livros. Entre os principais órgãos onde trabalhou, destaque para Rádio Renascença, Antena 1 ou SIC. O seu último trabalho foi como provedor do ouvinte do serviço público de Rádio.
Nas redes sociais, é lembrado por admiradores e amigos, como Cândido Mota, que escreveu um texto incrível na despedida deste seu grande amigo.
“JOÃO PAULO GUERRA. Vamos falar dele. Falar de João Paulo Guerra é falar de Portugal em tudo o que o compõe, nas grandes qualidades inesperadas e nas pequenas imperfeições, nas subtilezas dum espírito criador inesgotável e nas inoportunidades duma crítica mordaz que, sempre verdadeira, nem sempre vinha a propósito pelas regras escolásticas das boas maneiras. E que fazia as nossas delícias. Num sentido de humor duma inteligência e erudição inexcedíveis que, sem caír na chalaça fácil, tanto divertia os académicos da auto-promoção como desfazia às gargalhadas os tabernículas do copo de três. De trato inicial difícil e conhecimento trabalhoso transformava-se no amigo de quem não prescindíamos e que usávamos até à exaustão.
Para quem não existiam coisas sérias com que não se pode brincar, ironizar, dessacralizar, reduzir à dimensão humana como única forma de as divinizar. Conhecemo-nos no limiar dos vinte anos, no grupo inicial do gabinete de Informação do Rádio Clube Português lançado pelo Júlio Botelho Moniz e entregue em boa hora à chefia do Luís Filipe Costa com os ainda incipientes mas entusiásticos Paulo Fernando, Justino Moura Guedes, João Paulo Guerra, João Macieira de Barros e este Cândido Mota. Outros se seguiriam, dos nomes mais salientes da História da Rádio, mas esta foi a primeira fornada.
Houve comigo e com o João Paulo uma simpatia quase instantânia que depois vim a saber ser muito rara da parte ele. Falávamos imenso sobre os nossos gostos, preferências, aspirações, ideias a concretizar, ideais a defender. Deu-me a conhecer as obras dos poetas do neo-realismo português que faltavam no meu razoável acervo cultural, mais de acordo com o conteúdo das bibliotecas do meu pai e do meu avô. Irmão da Maria do Céu Guerra que foi actriz mesmo antes de o ser, filho da Maria Carlota Álvares da Guerra, escritora, jornalista e tudo o mais relacionado com a cultura e que também simpatizou comigo, introduziu-me num mundo que eu não conhecia bem, feito de pessoas que me deslumbraram e me aceitaram.
E como nos divertíamos, oh deuses! Muito contribuímos para os anos de ouro duma forma de comunicar que íamos criando ao sabor dos nossos passos, abrindo caminhos que íamos descobrindo à medida que andávamos. E aprendíamos uns com os outros. Tenho passado o dia a relembrar episódios, recriar ambientes, reviver aventuras. E rir, rir, chorar a rir com memórias que me assaltam, saídas de recantos que já não sabia que tinha. Com essas lágrimas vêm outras de saudade, de revolta, de recusa do inevitável terceiro acto desta peça que acaba sempre mal. São as duas máscaras do Teatro que andam sempre juntas nesta comédia dramática a que chamamos vida. O João Paulo Guerra saíu de cena. Foi brilhante. Pode dizer Plaudite, Cives. Aplaudamos, amigos. E partilhemos a memória!”, escreveu, numa linda homenagem, Cândido Mota.
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