É já na próxima sexta-feira, 13 de outubro, que Luís Osório levará os seus ‘Ficheiros Secretos’, ao Theatro Circo, Braga. Em palco, momento também para uma homenagem a Daniel Fernandes, que muitos conhecem pela incrível voz lírica que levou ao programa ‘The Voice’, ou pelos seus comentários pejados de bom humor, como jurado na ‘Praça da Alegria’.
No entanto, poucos o conhecem como o jornalista Luís Osório, que lhe dedica este ‘Postal do Dia’, e dá a conhecer ao país, muito mais do que a voz incrível ou o bom humor de Daniel Fernandes. Aos 24 anos, este ‘menino’ tem, para trás, uma vida difícil, mas que ajuda a explicar um ser tão especial.
“Daniel Fernandes, o menino que teve de crescer mais rápido do que os outros meninos
1.
Quando o ouvi pela primeira vez fiquei na expetativa. A sua voz era extraordinária, o seu timbre fora de comum, abria a boca e parecia quase irreal que um miúdo de Amares, protegido por avós e tias avós, pudesse cantar assim.
Depois, quando o ouvi a falar no The Voice, desconfiei.
(desconfiamos sempre do bem)
Por ser demasiadamente histriónico.
Demasiado simpático.
Demasiado bondoso.
Falava da avó Alice e das tias Eugénia e Helena com um carinho também demasiado.
2.
Foi assim o meu primeiro impacto com o Daniel Fernandes.
Mas o Daniel não é nada “demasiado”, ele é simplesmente extraordinário, um miúdo que teve de crescer muito depressa, que teve de aprender que a vida pode ser um buraco fundo, mas também uma mágica oportunidade.
O Daniel é um miúdo que tem hoje 24 anos, mas parece ter séculos. Que ri, que abraça, que está sempre bem-disposto para os outros, mas que sabe o quanto vale a gratidão pelas três mulheres que o protegeram.
E por uma mulher que foi a sua verdadeira mãe.
A bisavó Adelaide, avó da mãe biológica, que o acolheu numa aldeia de Amares por a neta ser demasiado nova e desejar viver sem o peso de uma criança às costas.
A Adelaide, a mãe dos pobres do lugar do Lago que abria a sua casa às quartas-feiras para que os mais vulneráveis pudessem comer e levar para casa, a Adelaide que foi mãe de leite de vários bebés na terra, o leite dos seus filhos dava sempre para os bebés das que não amamentavam
3.
O Daniel Fernandes é uma criança grande que teve de crescer e transformar-se num velho sábio.
O Daniel que tinha nove anos quando viu a sua Adelaide morrer.
A mulher a quem chamava mãe, mesmo que não o fizesse verbalmente, morreu-lhe num tempo em que ele ainda não sabia o que era a morte…
— a morte que nunca temeu.
O corpo da Laidinha foi velado na sala da sua própria casa. Toda a freguesia por lá passou e o pequeno Daniel, para espanto de todos, sempre que passava pelo caixão subia a um banquinho e beijava a bisavó.
Naquele velório o Daniel, no alto dos seus nove anos, despediu-se dezenas de vezes a mulher da sua vida.
4.
Adelaide morreu, a mãe continuou a fazer uma vida noutro lugar, o pai nunca apareceu e o Daniel foi amparado pelas filhas da Laidinha.
A avó Alice e as tias Eugénia e Helena.
Fizeram-lhe logo a jura de que nada lhe faltaria, que tudo se poderia sempre compor, que o tacho para cinco dá para seis se mais água lá for posta.
O Daniel continuou na escola e começou a cantar.
Um professor falou com as tias e a avó, o menino tinha de ser apoiado porque podia ser uma estrela, a sua voz não parecia daqui.
E a tia Geninha, a maravilhosa Eugénia, redobrou-se nos trabalhos para que ele não ficasse à porta do sonho.
Trabalhava de manhã no campo, ajudava nas compras para o café, ia à tarde trabalhar para o talho do irmão e acabava o dia a limpar a terra de um quintal de uma vizinha.
Chegava a casa e esticava as pernas ou salgava os pés com água quente, mas o seu menino estudou música e canto.
E hoje canta de norte a sul, participa em programas de televisão e continua a desejar ser presidente da Junta de Freguesia de Lago, no concelho de Amares.
Não o faz por ambição, mas para continuar a obra da Adelaide, ser um dia o pai dos pobres e abrir a sua casa às quartas-feiras para que todos possam comer de um tacho onde haverá sempre mais um bocadinho de água para acrescentar ao caldo.
É este homem extraordinário que quero homenagear na próxima sexta-feira no Theatro Circo.
Quero dizer-lhe o quanto é especial.
E quero dizer àquelas três senhoras, à Eugénia, à Alice e à Helena, que valeu bem a pena o esforço que fizeram pelo seu menino.
Também elas estarão presentes e será um dos momentos mais especiais desta digressão de Ficheiros Secretos que agora chega a Braga.
Ouvir o Daniel cantar e falar para ele.
Que na próxima sexta-feira os aplausos da cidade possam chegar à Laidinha, esteja ela onde estiver”.
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