O corpo de Carolina Torres, mais conhecida por Noori, foi encontrado em “elevado estado de decomposição” na Figueira da Foz. No entanto, só com a autópsia foi confirmado que se tratava mesmo da adolescente de 18 anos que deixou o país em suspenso, pelas últimas semanas.
Os pais estiveram sempre muito interventivos nas redes sociais, mas tem havido uma onda a apontar-lhes o dedo, inclusivamente, com relatos de que tenham posto a filha fora de casa, por não a aceitarem como era.
“Adeus filha. Desculpa não ter conseguido ser o melhor. Até ao nosso reencontro”, escreveu o pai, Sérgio Torres. Sobre ele, Noori tinha-o acusado de a pôr fora de casa e ser essa a razão pela qual vivia na rua, antes do seu desaparecimento.
Os pais eram separados e também a mãe não teria conseguido fazer mais com a filha e que a tinha entregado na casa do pai, por essa razão. “Ela disse-me que não queria que eu fizesse parte da vida dela, era como se eu não existisse para ela, que a tinha abandonado em casa do pai”, contou Cristiana Gaspar, enfermeira, no programa de Júlia Pinheiro.
Noori estava diagnosticada com Transtorno de Personalidade de Borderline, um transtorno mental que afeta gravemente a capacidade de uma pessoa gerir as suas emoções. Isso resulta em impulsividade, instabilidade emocional, relacionamentos interpessoais caóticos e uma marcada instabilidade na autoimagem. A mãe de Noori, também na entrevista com Júlia Pinheiro, revelou que a filha consumia álcool e drogas, o que prejudicava a sua condição.
Nas redes sociais, amigos e conhecidos apontam o dedo aos pais, que acusam de não respeitarem, nem a doença, nem a transsexualidade de Noori. E por não aceitarem essa diferença, acabaram por se afastar da filha, não percebendo o estado mental em que esta se encontrava.
“Falhei. Falhei com a minha filha, não vi o que devia ter visto, não fiz o que devia ter feito. Acreditei em quem tinha obrigação de a proteger — e perdi-a. Ela estava a sofrer e eu não percebi. Estava a desmoronar e eu não a segurei. Desapareceu… e eu fiquei com a culpa de não a ter salvo. Não procuro desculpas, não procuro consolo, esta é a verdade nua: a minha filha precisou de mim, e eu falhei. Só isso. E é isso que me destrói”, partilhou Cristiana Gaspar após a morte da filha. Ficou o vazio e a dor”, esreveu Cristiana.
Nesta segunda-feira, lamentou também a falta de empatia que tem sentido, no meio da maior perda que uma mãe pode sentir.
“A empatia ganhou outro peso na minha vida desde que o mundo me arrancou aquilo que eu mais amava.
Antes achava que empatia era “tentar entender”.
Hoje sei que ninguém consegue entender verdadeiramente o que se vive quando se perde uma filha — quando se perde a Carolina — mesmo que o nome não seja dito em voz alta todos os dias.
O que dói não é só a ausência.
É ver como a falta de empatia transforma essa ausência numa ferida ainda mais funda.
É ouvir opiniões soltas, certezas inventadas, julgamentos feitos por quem nunca sentiu o chão desaparecer debaixo dos pés.
A empatia, para mim, seria alguém perceber que o meu silêncio tem peso.
Que o meu olhar carrega histórias que não conto.
Que cada movimento meu ainda procura a minha filha, mesmo quando o corpo tenta seguir em frente.
Ser empático comigo é simples:
é não acrescentar mais dor ao que já está quebrado,
é não reescrever a minha história como se eu não tivesse amado o suficiente,
é perceber que uma mãe nunca desiste — nem quando o mundo acha que já devia ter desistido.
Se soubessem o que é viver com a Carolina no peito, todos os dias, mesmo sem poder tê-la nos braços…
falariam menos.
Julgariam menos.
E talvez entendessem que empatia, para mim, é isto:
não me empurrarem ainda mais para o abismo onde já aprendi a sobreviver.
A nossa história é NOSSA”, desabafou a mãe de Noori.
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